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O Papa era pop e boleiro: como era a ligação de Francisco com o futebol

O Papa Francisco nos deixou nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, mas este artigo não é para analisar os feitos de seu papado ou a sua representatividade para a Igreja Católica. Como bem diz o nome, o EsporteVerso trata de esportes e aqui iremos versar sobre algo que o carismático pontífice gostava muito: futebol.

Qual era o time do Papa Francisco?

O Papa Francisco, cujo nome de batismo era Jorge Mario Bergoglio, era argentino e, portanto, além da seleção de seu país, torcia para um clube hermano, mais precisamente, o San Lorenzo de Almagro, da capital Buenos Aires.

O San Lorenzo, aliás, fez uma bela homenagem ao religioso nesta manhã, com um vídeo de despedida emocionante, onde conseguimos ver algumas imagens raras, como fotos antigas de Francisco com a camisa do time e até a carteirinha de sócio honorário do clube.

San Lorenzo/Divulgação
Papa Francisco era torcedor do San Lorenzo (Foto: San Lorenzo/Reprodução x.com)

Homenagem do San Lorenzo ao Papa Francisco

“Nunca foi apenas mais um e sempre foi um dos nossos. Cuervo desde criança e como homem… Cuervo como sacerdote e cardeal… Cuervoi também como Papa…

Sempre transmitiu sua paixão pelo Ciclón: quando ia ao Viejo Gasómetro para ver o time de 46, quando confirmava Angelito Correa na capela da Cidade Esportiva, quando recebia as visitas azulgranas no Vaticano sempre com total felicidade… Sócio N°88235.

De Jorge Mario Bergoglio a Francisco, houve algo que jamais mudou: seu amor pelo Ciclón.

Envoltos em profunda dor, desde #SanLorenzo hoje dizemos a Francisco: Adeus, obrigado e até sempre! Estaremos juntos pela eternidade!”.

‘Milagres’ do Papa Francisco

Desde pequeno, Jorge Mario Bergoglio acompanhava partidas do San Lorenzo com seu pai e irmão. O clube representa, para ele, não apenas uma paixão esportiva, mas também uma memória afetiva familiar.

Em diversas ocasiões, já como Papa, ele mencionou o clube com carinho, e até recebeu delegações do San Lorenzo no Vaticano, inclusive após o título do Campeonato Argentino de 2013 – ano em que assumiu o papado-, quando foi presenteado com uma camisa personalizada e uma cópia da taça.

Títulos argentino e da Libertadores

O clube levantou o troféu após seis anos sem conquistas. Na temporada seguinte, em 2014, o clube venceu pela primeira vez a Libertadores da América. Meras coincidências? Talvez, mas isso levou muitos torcedores a começarem a acreditar que os possíveis milagres do time poderiam ter ligação com o novo líder da Igreja Católica.

“Assisti com alegria, mas não é um milagre”, brincou o Papa Francisco, sobre os títulos do San Lorenzo após ter assumido seu mandato.

Carteirinha do Papa de sócio do San Lorenzo (Foto: San Lorenzo)
Carteirinha do Papa de sócio do San Lorenzo (Foto: San Lorenzo)

Argentina campeã do mundo

Outro “milagre” que pode ser creditado a Francisco é a conquista da Copa do Mundo de 2022 pela Argentina. Depois de quase ter levantado o título em 2014, quando foi vice-campeã para a Alemanha (no fatídico torneio do 7 a 1), a seleção argentina sagrou-se tricampeã mundial no Catar após 36 anos de jejum.

Antes, Francisco já tinha visto o fim do jejum da seleção, com o bicampeonato da Copa América (2021 e 2024). Mas foi a final da Copa do Mundo de 2022 que pareceu ter tido uma verdadeira intervenção divina. Isso porque, além do “Deus” Lionel Messi em campo, a partida foi considerada por muitos (inclusive este que vos escreve) como a maior decisão de todos os tempos da competição.

Para completar, também era a última Copa do Mundo de Messi (será?), o maior jogador do país depois de Diego Maradona. E poderia esse gênio dos campos terminar sua carreira na seleção sem o maior título de todos?

Francisco – ou melhor – Deus não permitiria isso. Em um jogo eletrizante, onde a Argentina abriu 2 a 0 e terminou em 3 a 3, com direito à prorrogação, milagre do goleiro e decisão por pênaltis, o Papa viu seu maior craque ser colocado no panteão dos craques campeões mundiais.

Nada de Copa do Mundo

Mesmo sendo um amante do futebol, o Papa não assistiu às conquistas da Argentina (e nem do San Lorenzo) nos últimos anos. Isso porque, ele fez uma promessa na década de 1990 que o fez deixar de assistir televisão. O motivo da prece, no entanto, nunca foi revelado. Assim, Francisco ficou sabendo dos títulos apenas por relatos.

Papa Francisco e o Brasil

Apesar de ser argentino, o Papa tinha profunda ligação com o futebol brasileiro. Em 2013, quando veio ao Brasil, recebeu das mãos da então presidenta da República, Dilma Rousseff, uma camisa da seleção brasileira autografada por ninguém menos que Pelé.

Já em 2023, quando questionado em entrevista à RAI sobre quem seria melhor, Maradona ou Messi, o pontífice nem titubeou: elegeu logo Pelé como o melhor jogador da história do futebol.

“Eu coloco um terceiro: Pelé. São os três que eu segui. Maradona, como jogador, foi um grande, um grande. Mas, como homem, falhou (…). Messi é corretíssimo. É corretíssimo. É um senhor. Mas, para mim, desses três, o grande senhor é Pelé. Um homem de um coração”, comentou o Papa.

“Eu falei com Pelé uma vez, o encontrei em um voo, quando ia a Buenos Aires, conversamos. É um homem de uma humanidade muito grande, mas os três são grandes”, concluiu Francisco.

Papa e Maradona

Na mesma entrevista, o pontífice relembrou o encontro que teve com Maradona. Ele lamentou a trajetória cercada de polêmicas do eterno ídolo da Argentina.

“O coitado escorregou na corte daqueles que o bajulavam, mas não o ajudavam. Ele veio me ver aqui, no meu primeiro ano de pontificado. Depois, o coitado, teve seu fim. É curioso, tantos esportistas acabam mal. Também no boxe, muitos terminam mal. É curioso”, disse o Papa.

Papa Francisco recebe camisa da seleção brasileira (Foto: Divulgação)
Papa Francisco recebe camisa da seleção brasileira (Foto: Divulgação)

Rolês aleatórios do Papa com brasileiros

Durante seus 12 anos de papado, Francisco recebeu diversos nomes do esporte e presentes de jogadores e clubes brasileiros. Um deles (o mais aleatório) foi Ronaldinho Gaúcho, em 2022. Na ocasião, o religioso se encontrou com os atletas que disputariam a “Partida pela Paz”, na Sala Paulo VI, no Vaticano.

O brasileiro, claro, estava entre os atletas convidados para disputar a partida, organizada pelo próprio Papa e pela Scholas Occurrentes. Em discurso aos atletas, o pontífice reforçou que o evento foi realizado para promover a “paz, amizade e proximidade entre as nações”.

Mas não foi apenas o “R10” que esteve presente com o Papa. Francisco também recebeu camisas e lembranças de torcedores e dirigentes do Sport, Fluminense, Grêmio, Chapecoense e Paraná, por exemplo. O pontífice se encontrou ainda com o jogador de vôlei Bruninho e ganhou um capacete de Ayrton Senna.

https://www.instagram.com/p/DIto8PRukRr

Quem foi o ídolo do Papa no futebol?

Outra curiosidade do Papa com relação ao futebol era o ídolo dele: René Pontoni, cuja admiração pelo ex-jogador do San Lorenzo foi descrita em carta pelo pontífice.

Apesar de não ser um craque lembrado mundo afora, o atleta revelado no Gimnasia de Santa Fé fez uma carreira de destaque, conquistando, inclusive, o Campeonato Argentino pelo time de Francisco em 1946 e sendo tricampeão sul-americano (atual Copa América) pela Argentina.

Pontoni foi ídolo no San Lorenzo na década de 1940, sobretudo quando foi responsável por 20 gols na campanha vitoriosa do clube em 1946 e fazia parte do “terceto de oro”, trio de ataque daquela equipe, junto a Farro e Martino.

Já pela seleção, disputou somente 19 partidas, mas sua passagem foi tão marcante quanto pelo clube argentino: afinal, o craque marcou, ao todo, impressionantes 19 gols, o que o levaria a ter uma média de um tento por jogo.

René Pontoni foi ídolo do Papa e jogou no Brasil (Foto: Reprodução)
René Pontoni foi ídolo do Papa e jogou no Brasil (Foto: Reprodução)

Ídolo de Francisco no futebol brasileiro

A idolatria de Francisco por Pontoni estreita ainda mais os laços com o Brasil, afinal, o jogador teve uma passagem pela Portuguesa de Desportos entre 1952 e 1953. Segundo dados do Wikipedia, o argentino atuou 17 vezes pelo clube paulista, anotando cinco gols.

Pontoni chegou à Portuguesa já com 32 anos, após passagem pelo Independiente de Santa Fé, da Colômbia, e ter visto a carreira quase encerrada por uma grave lesão em 1948.

Na Lusa, o ídolo do Papa participou de uma das melhores equipes do Brasil na época. O clube foi campeão do Rio-SP naquele ano, e com cinco jogadores que estariam com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1954: Julinho, Djalma Santos, Brandãozinho, Pinga e Cabeção.

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